ASSUMINDO SEM CULPA NENHUMA QUE MÃE NÃO SE ESCOLHEHistórias que metem o dedo em feridas e tabus.
Para aqueles que ousarem se aventurar pela narrativa, o rio torna-se mais fundo do que aparenta, saber que a história contada de fato aconteceu dá a real dimensão do que essa crônica representa.
Conte algo ruim que sua mãe fez que marcou sua vida para sempre.
A minha história começa com uma mudança de endereço que devastou a minha vida e, então, volta no tempo para mostrar o que aconteceu.
E o que aconteceu aborda cirurgicamente assuntos como o mito da maternidade, abuso e abandono psicológico e muito, muito mais.
Por muito tempo, eu busquei motivos para as atitudes dela, aqueles primeiros dias podem ser interpretados como a construção da estrutura de uma casa, eles foram a base pela qual todo o resto se desenvolveu.
Nesta casa nunca experimentei o sentimento de pertencimento, foi nela que peguei meus vários porta-retratos tirei as fotos e os joguei fora, fiquei desorientado, não queria colocá-los no chão, eu fui excluído, abandonado, abusado.
Quando a confrontei ela não se importou, como é possível uma mãe ter feito coisas horrendas e ainda assim continuar achando que nada aconteceu?
Durante esses anos outras coisas iam desmoronando na minha vida, até que eu vi que o que eu estava sofrendo era um abuso psicológico.
A partir daí, toda história parece tomar uma direção terrível, é um pesadelo dentro de outro pesadelo, acontecimentos que empurraram a me fechar em mim mesmo.
Essa casa representa sofrimento, uma história que não desejo para ninguém, cada momento que passo aqui uma parte de mim morre.
Qual foi a gota d´água entre vocês?
Foi no dia 30 de maio de 2011, num ato tresloucado e sem motivos, na frente de todos, ela me expulsou porta afora, peguei umas peças de roupas e sai desorientado, nunca havia me sentido tão desamparado na vida.
Eu me esforçava para ver uma semelhança clara entre mim e minha mãe, alguma ligação que provasse que eu saíra dela.
Foi aí que eu percebi que esse convívio mãe e filho, tão comum para as outras pessoas, não era possível para mim, o relacionamento foi quebrado de forma irreparável.
Não faço questão alguma de tê-la mais emocionalmente em minha vida, psicologicamente fico melhor mantendo essa distância emocional.
A parte visível da minha história não chega a dez por cento do que já enfrentei, têm histórias que vocês sequer sonham, sobrevivi - SOBREVIVENDO NO INFERNO - mas percebo que eu seria outra pessoa caso não tivesse passado por aquilo.
Muitos filhos se separam, voltam e caem na armadilha de suas mães abusivas novamente, em muitos casos são mães que oferecem bem estar financeiro aos filhos, mas o fazem pagar um preço alto por isso. – Thalita Arruda, psicóloga.