sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

SOBRE AQUELA NARRATIVA DE ABANDONO E ABUSO . .

. . emocional materno.
Estava estagnado, estático, no mesmo lugar e sem ter para onde ir, era como estava me sentindo, cada vez mais, naquela década sinistra.

Tendo a visão de que aquele é um lugar horrível, é repulsivo, desconfortável.

Situações completamente desagradáveis em que eu queria fugir dali, ou então gritar, mas você não consegue porque tem várias outras coisas por trás de como eu vou provar isso.
Algo que até a gente deixa passar, se finge de bobo, mas aquilo é abandono, é abuso materno.

O que eu vivia era uma espécie de morte diária.
Todo dia era o pior dia da minha vida.

Ficava pensando o quão pior é parecer que você está alegre quando se está morrendo por dentro.
É quando a dor lhe consome em cada momento do dia.

Eu trancava tudo do lado de fora, dor, abandono, talvez tranquei outras coisas também, e gostaria de não ter trancado.
Por um tempo não via sentido em mais nada, me via abandonado como se fosse substituível.

Levou um bom tempo (duas décadas de dor e sofrimento para ser exato - SOBREVIVENDO NO INFERNO) até que eu decidisse externar a natureza abusiva da minha genitora.
O único caminho era jogar luz sobre o assunto e claro, não deixar passar nenhuma situação.

E resolvi, finalmente, me pronunciar por uma questão de dignidade - uma necessidade emocional que todos nós temos de reconhecimento público de se ter feito bem as coisas, em relação a autoridades, círculo familiar, entre outros.
A partir do momento que passei a escrever senti um alívio que vocês nem imaginam, de que pelo menos agora a imagem pública dela correspondia ao que eu sabia que era de fato no privado.

Foi preciso estar aqui com toda transparência, toda a clareza, para dizer para a pessoa capaz de atos abomináveis, coisas atrozes, ações cruéis, perversidades, sempre citada aqui que:
O seu abandono foi uma das melhores coisas que me aconteceu, porque tive a oportunidade de conhecer uma família de verdade.

Se aquela pessoa abençoada por quem tenho eterna gratidão, que me acolheu, me deu amor, me deu um lar (o que é absolutamente diferente de uma casa), me respeitou, me deu privacidade, respeitou minha intimidade - tudo aquilo que você me negou naquela noite devastadora em 1998 em que eu chorava a ponto de soluçar - e do alto de uma demasiada sabedoria, segurou minha mão e disse: eu sei bem quem você é, deixa ela pra lá, ela não te merece, estivesse aqui, estaria incondicionalmente do meu lado, não tenho dúvida disso.

Mas você não enxerga o que faz, nunca assumiu a responsabilidade pelo que fez comigo.
Nunca importou para você como eu me sentia; nunca sequer te importou se a cada atitude desmedida que você fazia, minha autoestima se esvaía ralo abaixo.
Então pare de tentar agir como se nada tivesse acontecido.

Quero que você saiba que chega uma hora que a sua presença não faz mais falta.
Sabe qual é o seu lugar na minha vida? Um grande buraco negro.
Você precisa se dar conta que foi descartada como mãe.

Mesmo que ninguém à sua volta esteja te validando, mantenha-se verdadeiro a si mesmo, tenha um diário para relatar essas situações e leia a respeito. – Michele Engelke.