domingo, 4 de fevereiro de 2018

SOBREVIVENDO NO INFERNO

A atribulada passagem rumo a meu potente relato que fala de minhas experiências pessoais.
Decidi fazer esse relato quando vi um filme onde um casal tinha raptado e aprisionado duas crianças, para “transformá-las” em seus filhos.
O plano estava dando certo, mas uma mulher percebeu algo estranho ao conhecer a casa deles (bem decorada), havia várias fotos, mas nenhuma de aniversários, ou com as crianças em ambientes externos.

Isso fez transbordar as lembranças terríveis, segue algumas e outros diálogos, vou contar como tudo começou.
Há cerca de 20 anos quando minha avó morreu sugeriram que minha mãe alugasse o apartamento e cada um tomasse seu rumo, mas ela disse que tinha uma dívida com a mãe e precisava cuidar deles.
Pouco tempo depois mudamos para lá.
Foi nessa casa que peguei meus vários porta-retratos tirei as fotos e os joguei fora, poderia tê-los dado, mas fiquei desorientado, não queria colocá-los no chão.

É que sem motivo e aviso, minha mãe deu meu quarto, meus móveis, minha cama e meu colchão.
Em compensação ganhei um colchonete, um travesseiro e um lençol.
Mas aproxima-se o Judgment Day . .
. . éramos seis, parece nome de novela, mas é um filme de terror, cheguei para dormir e encontrei uma sétima pessoa e já não tinha mais nem o colchonete.

– Só porque sua mãe tem um problema ela não precisa estragar sua vida.
– Quando o sofrimento é violência, ele muitas vezes é construído sob a forma de cuidado.
– É o estilo doentio de maternidade.

Naquela noite que nossa avó faleceu, minha prima que morava com ela, eu, minha tia e minha namorada conversávamos, e esta última fala: agora que tua avó morreu “abre o olho”, que sua tia pode te mandar pra casa da tua mãe.
E ouvimos: eu quero que minha tia se #%*@.
Não por acaso, foi essa prima que ganhou o quarto (com direito a chave e tudo mais), quando poderia dividir o outro com minha mãe já que eram as únicas mulheres.

Do quarto para a sala.
Eu casei, tive uma família, morei em um lar, mas o casamento acabou, e coisas ainda mais tenebrosas aconteceram depois que me separei e sem ter pra onde ir voltei para esse lugar abominável.
Minha prima se dizendo incomodada havia passado a dormir na sala, mas mantendo o status de dona do quarto.
Cheguei a marcar algumas sextas-feiras nas quais ela não trabalharia no sábado seguinte, em que por volta de 22h00min “ordenava” que eu desligasse o computador, pois ela iria dormir.

– Isso não é coincidência.
– Tecnicamente dois eventos são coincidência, é necessário três para ser um padrão.

Da sala para o banheiro.
Houve um período que minha prima tomava um 2° banho e ia dormir, o celular tocava, ela saia e na volta tomava outro banho (todos muito demorados), o que ela fazia não é o que importa.
Mas, em um domingo de verão sai e na volta fui tomar banho, posso ter demorado um pouco, mas sem excessos, maldito banho, acabei e minha mãe me esperava para perguntar: você já não tinha tomado banho mais cedo?
Somado outros fatos isso me afetou muito, não conseguir mais ficar a vontade nem no banheiro.
Certo dia chorava angustiado, minha prima perguntou o que estava acontecendo e contei a história acima, ela disse: comigo ela não se mete, o buraco é mais em baixo.

– Eu tinha um cantinho, um refúgio, só que ele foi violado e agora, devo me isolar?
– Você não está com mania de perseguição?
– Não, eu sou um excelente observador do ser humano.
– É, eu sei como é se sentir vulnerável, eu fui perseguido por anos, até que um dia resolvi que bastava pra mim.

E chega o dia 30 de maio de 2011: Num ato tresloucado e na frente de todos, minha mãe me expulsou porta afora.
Apesar de inocente (em outro ponto dessa história tenho duas ocorrências policiais onde sou a vítima), peguei umas peças de roupas e sai desorientado.
Mesmo que eu quisesse não posso imaginar a profundidade da patologia dela.

– Sabe a maldade que você mencionou? Eu não sei se nascemos com ela mas a minha mãe descobriu um jeito de aflorá-la.
– Vamos todos ali na esquina morrer de vergonha dela e voltamos daqui a pouco.

– O modo como ela me tratou, isso me mostrou o lado sombrio dela, como pode não ter importância você machucar alguém?
– Na minha opinião ela nunca vai mudar, você tem de aceitar o fato.

– Por que acha que ela ficou má?
– Não sei, na vida o caminho das trevas é uma escolha, ele não é imposto.

Ela não se transformou, apenas veio à tona o lado negro que estava guardado dentro dela.
A maldade não se manifesta da noite para o dia.
Você vive com alguém que acha que conhece, mas ela tinha um lado sombrio escondido.
Por várias vezes eu dei a chance dela me mostrar quem ela é, e eu percebi que ela já me mostrou, ela merece receber a punição divina.

– Eu me baseio no que vejo.
– Talvez precise olhar mais de perto.
– Sabe, sempre que te dou o benefício da dúvida isso volta pra me assombrar.

– Eu acho que essas coisas ruins sempre acontecem por uma razão.
– Se há uma boa razão pra dor e sofrimento eu adoraria saber.
– Talvez precise passar pelas pessoas erradas para reconhecer as certas.

E é estranho quando as pessoas minimizam o que você sente, mas não tem noção do seu sofrimento.
Há milhões de motivos para permitir a dor, o sofrimento, em vez de erradicá-los, mas a maioria desses motivos só pode ser entendida dentro da história de cada pessoa.
Eu falo de retomar o controle da minha vida.
Então vou dizer uma coisa para aqueles que concluírem algo como: Ele é filho único, não sabe dividir nada.
Não tentem me dissecar com essa psicologia barata, só tem uma coisa nessa vida que eu lamento que é deixar tudo o que eu prezava, tudo com o que eu me importava ser tirado de mim, e Deus a ajude se eu deixar ela me tirar alguma coisa de novo.

O tempo deixa perguntas, mostra respostas, esclarece dúvidas, mas, acima de tudo, o tempo traz verdades.
Aconteceu e a narrativa está nesta crônica: INSTRUÇÕES PARA O MEU FUNERAL
E só para constar, repito que ela poderá negar, dizer que é mentira, ou que perdi o juízo, e os citados acima poderão usar o direito de ficarem em silêncio, mas como disse um padre: Eu tenho em Deus e na minha consciência duas testemunhas permanentes.
E repito também a fala de um filme: As dores do meu parto devem ter sido terríveis para ela ter feito o que fez comigo.
Depois do que passei, se estivesse com ela em um navio afundando e com um só salva-vidas, seria melhor ela aprender a nadar.

Tudo que ela me fez passar fez de mim um sobrevivente.
Foram às lições da minha vida, eu só estou dizendo que devem sempre lembrar por quem eu fui traído, eu tento negar isso, mas sou filho da minha mãe.
Não há nenhuma justificativa moral para aquilo. Ela resolveu me punir por algo que eu nunca fiz.
Só a justiça vai poder trazer de volta as coisas ao normal.

Meu pai e sua mãe deveriam se juntar e escrever um livro sobre como dar bons exemplos aos filhos, seria um best-seller. – A. F. S.