terça-feira, 26 de julho de 2016

SE NÃO DÁ PARA MUDAR O OUTRO - E TAMBÉM NÃO POSSO MUDAR - TALVEZ ENCONTRAR UMA ALTERNATIVA

Só que as coisas são muito maléficas, as relações sociais são muito perversas.
Não se deve generalizar, é preciso ver como cada um enfrenta a sua história.
Por mais que nós vivamos em coletivo, que formemos família, a nossa angústia, o nosso sofrimento, vamos viver individualmente, a gente vive muito sozinho.
Como lidar então com emoções, com sentido de vida, com significados?

Existem aqueles que se sentem “errados”, e passam a ter danos quase irreversíveis quando uma regra do seu grupo ou da sociedade começa a ter “estatuto de verdade” para eles, quando aquela “verdade” imposta não corresponde à verdade pessoal, individual de cada um.
Daí ocorre um grande problema, um grande sofrimento, porque não dá para romper com a sociedade e nem romper com a própria verdade.
Então precisa um trabalho de resistência, de resiliência mesmo, é muito pessoal.
As pessoas têm que se valer da suas próprias convicções, da sua própria verdade, para se situar no mundo.

Conflitos sociais são marcados pela imposição de pré-condições violentas, e pela dificuldade de tolerar diferenças do outro.
Um egoísmo, que reflete na atual sociedade contemporânea, em seu ensimesmamento*, um olhar que não é para o outro, nem voltado para uma questão de ética e valores, acaba sendo irrefletido.
*A fuga de idéias, a inadaptação radical, a incoerência. O ensimesmado, fechado em si mesmo, é incapaz de enxergar o outro, exceto quando o objetifica.
Há ausência de concórdia, desinteligência, falta de acordo entre as pessoas, uma distopia, em que tudo está organizado de uma forma opressiva.

Muitos, ao defenderem posições extremadas, que ferem o bom senso mais elementar ou que não admitam a possibilidade de avaliar possíveis exceções, alegam geralmente, que estão apenas seguindo seus princípios.
Tal conduta da a entender que aqueles capazes de ponderar caso a caso ou de levar em conta as circunstâncias são relativistas sem princípios.
Ora, o fato de termos princípios não implica necessariamente que tenhamos de ser dogmáticos.
Ou seja, achar que existem verdades absolutas válidas para toda e qualquer situação.

Vejamos o conceito da antropologia que define o etnocentrismo como a visão demonstrada por alguém que considera as normas e valores da sua própria cultura melhores do que as das outras, o centro de tudo, portanto, num plano mais importante que as outras.
O etnocentrismo tem uma vertente de confronto, isso pode representar um problema, porque frequentemente dá origem a preconceitos e ideias infundamentadas.
Essa visão demonstra desconhecimento, levando ao desrespeito, depreciação e intolerância por quem é diferente, originando em seus casos mais extremos, atitudes preconceituosas, radicais e xenófobas, e pode atingir proporções drásticas.
Temos de entender que os valores, princípios morais, o certo e o errado, o bem e o mal, são intrínsecos a cada um.

Princípios éticos são ideais regulativos a que ‘nada de empírico pode corresponder’, como dizia Kant.
São ‘modelos’ ideais que ajudam a definir metas possíveis, mesmo sabendo que os ideais em si mesmos jamais poderão ser realmente alcançados.
Precisamos de valores ideais, como justiça ou igualdade, para nos orientar em direção a sociedades mais justas e igualitárias, mesmo sabendo que uma situação de justiça ou igualdade absoluta é impossível.
Pois nós, seres humanos, estamos sujeitos a contingências e limitações que sempre podem nos levar a cometer erros em nossos julgamentos e ações, levando-nos a tratar alguém de maneira injusta ou desigual.

De modo que, alguns agem tentando obrigar a realidade a se adequar aos seus imperativos morais, pouco lhes importando o sofrimento ou até a mesmo a conjuntura.
Para eles, a pureza de seus princípios e a cega observância dos mesmos é tudo o que importa, e qualquer ponderação é vista como fraqueza ou traição a ser combatida.
O que eles querem?
Querem garantir um universo de significados!
Acho essa postura nociva.

Mas isso não significa que devemos ficar de braços cruzados frente às injustiças.
Que parâmetros, que ferramentas da psicologia ou da sociologia, por exemplo, podemos utilizar para compreender qual o desacordo em relação à “norma” que gera isso?
Bem, tendo em conta que filosofia é o caminho de quem ama a sabedoria, uma atitude filosófica significa não aceitar algo que é considerado como “verdade absoluta” sem antes pensar sobre essa determinada "suposta verdade".
É ter pensamento crítico e não se basear no senso comum, que muitas vezes pode levar a enganos.