domingo, 10 de fevereiro de 2019

'PORQUE HÁ MÃES QUE NÃO GOSTAM DOS FILHOS'

É melhor escolher não ser mãe do que ser uma mãe ruim.
A jornalista Ana Cristina Marques do jornal Observador em Lisboa, fez essa interessante entrevista com Lucília Galha autora do livro Mãe, Porque Não Gostas de Mim?

'Afinal, o amor de uma mãe pode não ser incondicional?
Essa foi a premissa do livro de Lucília Galha, ele mostra como, afinal, o amor de uma mãe pode não ser incondicional.
O livro abala a noção que temos da relação entre mãe e filho, foram 40 horas de entrevistas, conversas difíceis de ter e ler, histórias de sete mulheres e de um homem, que foram, de uma forma ou de outra, mal amados pelas mães biológicas.

Porque é que se centrou na figura da mãe e não na do pai?
Aos pais é mais fácil a sociedade perdoar, ainda somos um pouco “atrasados” nestas questões e acho que ainda falta trabalhar estes conceitos.
Acho que desculpamos mais facilmente o pai do que a mãe que não gosta dos filhos, por isso ser mais aberrante para a sociedade, diz a autora.

E porquê sete mulheres e um só homem?
Foi muito mais difícil encontrar homens, é mais difícil para eles falarem, exteriorizarem esta questão, que é muito emocional.
Mas queria incluir pelo menos um caso de um homem, porque acho que implica uma sensibilidade diferente, quis inclui-lo para dar alguma amplitude ao livro, responde ela.

A autora enfatiza que o amor de uma mãe não é, afinal, incondicional e confirma que este é um tema tabu.
Me debrucei sobre essa questão que é tabu: como é que uma mãe pode não amar os filhos?
É uma coisa que parece inconcebível na nossa sociedade, o conceito de amor de mãe é sagrado: mãe que é mãe, ama os filhos incondicionalmente e faz tudo por eles, acrescenta.

Quão difícil foi encontrar estas histórias?
Na realidade os casos existem e até existem bastantes.
Quando pensamos em fazer o livro, pensamos em falar com pessoas adultas, estas pessoas têm todas uma enorme mágoa, mas sendo um tema tabu é muito escondido e abafado.
Assim, é sempre muito difícil chegar aos casos, as próprias pessoas não gostam de falar sobre isto.

E todos os casos traçam perfis de mães diferentes, das que não sabem amar às que não querem amar, sendo que, na sua maioria, mostram como há padrões difíceis de quebrar.
Um único caso em que se é mais difícil perceber o que aconteceu, porque a própria filha não sabe e nunca teve coragem de perguntar, é o em que existe uma mãe com imensa cultura e boa educação – não se percebe o que houve para ela ser assim.
Nos outros casos percebemos que estas mães são um pouco o fruto daquilo que lhes aconteceu.

Há várias razões para o amor de uma mãe não existir, pode ter que ver com circunstâncias da vida dela própria, com a sua história.
Há mães que não conseguem amar por influência do que viveram, ou que não amam da forma mais correta, e há mães que definitivamente não sabem amar.

Mas é preciso dizer isto: uma coisa nunca desculpa a outra, ou seja, cabe às mães protegerem os filhos e não projetarem nos filhos os seus problemas.
Há aqui questões que deveriam ter sido resolvidas antes destas mulheres terem sido mães.
Estas mães podem ter sido vítimas das circunstâncias, mas não souberam ou não conseguiram quebrar o padrão, ao contrário dos filhos que relatam estas histórias.

Todos os filhos que falaram comigo detectaram que havia ali alguma coisa que não estava certa.
E há sempre consequências, apesar de a maior parte das pessoas com quem falei terem conseguido dar a volta, nunca deixam de ter um certo vazio na vida delas, concluiu.'

Bem, temos que cortar essas amarras, e desculpem a franqueza mas, como eu preciso ficar lembrando para mim mesmo, essa senhora aqui fez coisas abomináveis que ela acha totalmente aceitáveis, atravessou múltiplos limites parentais (veja a minha história em SOBREVIVENDO NO INFERNO).

O fato é que na maior partes das vezes somos um apanhado de resquícios de nossos pais (o que há de pior neles). – Frederico Mattos, psicólogo e escritor.