terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A VERDADE NÃO SE JUSTIFICA


Mas é aquela coisa, quem fala a verdade é tirado como louco.
A mentira é um dos lugares mais fáceis para onde aqueles que resistem aos embates correm, ela dá um falso sentimento de segurança, um lugar onde eles só precisam contar consigo mesmo, mas é um lugar escuro não é?

Não por acaso a crônica anterior invoca os últimos 20 anos, afinal eu devia ter acreditado mais na frase – ‘a sua maior força também pode ser a sua maior fraqueza, sua esperança’ – que ouvi.
Falo de uma pessoa sufocada, infeliz, optei por deixar as reais intenções subentendidas, que é de certa forma empregar um grau maior ou menor de sutileza, com a qual será compreendida por aqueles que realmente precisam compreender a mensagem nas entrelinhas.
Aqui eu busco explicar muito, a minha história parte de uma traição cruel, não há redenção.

’Para mim, as suas crônicas têm reticências, existe uma melancolia ali, tudo isso gera uma certa atmosfera, aquela pessoa parece ter histórias interrompidas.
Você retrata um capítulo trágico e denso, em que apresenta dificuldade em seus relacionamentos familiares.
Você é inteligente, educado, mas tem buracos na alma, uma amargura danada.
Você buscou referências na solidão de outros, assim como na paleta de tons cinza, na nesga de luz e nas sombras, para apresentar os personagens.
Acho que há um lado verdadeiro no que disse, nada nunca conseguiu mudar quem você é, tem de ser honesto quanto aos seus sentimentos’. Essas palavras vieram a reboque.

Eu sei que ela deve ter conseguido se convencer de que fez tudo pelo meu bem, que isso me ampararia.
Ela poderá falar que me deu uma vida.
Eu vou dizer à vida que ela me deu: Tristeza, dor, sofrimento, devo agradecer por isso?
Como disse a escritora Ana Maria Moretzsohn, tudo tem limite, até a gratidão.

E o apêndice são esses diálogos.
– Ela nunca assumiu a responsabilidade pelo que fez comigo.
– Como se você fosse perfeito.
– Não, estou longe disso, mas eu tenho sido decente, enquanto ela virou uma pessoa má.
– É muito mordaz, até pra você.

– Ela tomou as decisões baseada no que é melhor para os outros, nunca parou pra pensar no que é melhor para mim.
– Presumindo que isso seja verdade, isso faria diferença?
– Ela foi responsável pelo que aconteceu, nada jamais mudará isso.

Todos fazem escolhas ruins, mas pode-se tentar fazer as escolhas certas no futuro.
Apesar de eu achar que ela possa ter feito um esforço para mudar, ninguém pode mudar a própria essência.
Ela nunca vai lutar contra a própria natureza e fazer algo que não é típico, confessar os seus erros esperando por perdão.
Fazer as escolhas erradas e ter que viver com as consequências nunca é fácil.
Para quem que não acredita vou citar um dos poetas elisabetanos: Entre a verdade e a loucura existe um traço de lucidez.