quinta-feira, 4 de outubro de 2018

DEPOIMENTOS SOBRE MÃES ABUSIVAS

Estas pessoas não estão impassíveis por sua eloqüência.
Por Letícia Fernandez, jornalista, escritora, colunista.
‘Uma moça fez um relato pessoal e, aparentemente, mais comum do que gostaríamos de acreditar e dezenas de comentários de outras mulheres apontam que aquela história é conhecida e vivida por muitas pessoas.
Porém outras mulheres resolveram desancar a moça, a atitude me deixa absurdada por diversas razões, mas se sobressaem algumas.

A repetição do velho, desgastado e desonesto bordão “se eu nunca vi, não aconteceu”; a deliberada decisão de ignorar o que foi exposto, bem como o relato de outras pessoas, também vítimas de relacionamentos intrafamiliares abusivos.
Sim, porque a gente não gosta de pensar nisso, mas mães podem ser abusivas.

O que vi foi uma tentativa desrespeitosa de desmerecer o sofrimento de quem está na ponta mais fraca desta relação, como se a jovem não estivesse ela mesma ficando também traumatizada e sem conseguir entender como quem mais devia lhe apoiar não o faz.
Elas se sentem tão importantes a ponto de acreditar que tudo é uma conspiração.

Sempre existem aqueles pouco sensíveis, que categorizam qualquer sofrimento alheio como mera frescura.
A este ponto algumas pessoas devem estar pensando que é drama, exagero, que isso não existe, mas existe.
Uma realidade longe de acabar, longe de conseguir o apoio ideal para as vítimas, longe de ser algo que as pessoas tomam como verdade, essas pessoas pensam que a vítima está mentindo.
Vítimas que passam por isso precisam muito de apoio e quase nunca encontram.

Um dos maiores problemas no caso do relacionamento abusivo materno é não ter o apoio de ninguém.
Embora muitas pessoas peçam ajuda, não a encontram, fazem terapia e muitos profissionais não sabem identificar o problema.
Chegam a achar absurdo e até perguntam para o paciente se ele quer ensinar a profissão para o terapeuta, ou seja, onde a ajuda é solicitada, a pessoa é abandonada.

Também cansamos de ouvir conselhos como “saia de casa”, “muita gente vive com pouco, você consegue”, “você está exagerando”.
Normalmente quem vive um relacionamento desses já tentou inúmeras vezes sair de casa, mas não conseguiu ou, se conseguiu e voltou, recebeu o dobro do abuso antes vivido.

Ninguém precisa saber que para parar de viver isso precisa sair de casa, mas muitas vezes não existem condições para tal, e não é falando “se esforça” que isso vai acontecer.
Quando uma pessoa pede apoio, ela quer ser ouvida.’

Sempre encontrei no sexo uma grande virtude consoladora, e nada adoça mais as minhas aflições vindas dos meus problemas do que sentir que uma pessoa amável se interessa por ele. – Jean Jacques Rousseau

Contudo, certas coisas não se deve fazer quando se dá apoio emocional a alguém.
Não se concentre em resolver o problema.
A menos que haja um pedido explícito de ajuda, não estamos à procura de conselhos práticos quando falamos sobre as questões que nos preocupam ou incomodam.

O conceito de apoio emocional é autoexplicativo, ou seja, não se trata de um processo de criação de ideias para se resolver um problema, mas de dar suporte.
O apoio emocional vem da sintonia de compreender a necessidade de outra pessoa de ter os sentimentos reconhecidos.
Quando você diz para alguém que está sofrendo de angústia: “percebo como isso afeta você”, independente do que esteja acontecendo ou se concorda com a razão ou a reação emocional da pessoa, você a faz se sentir vista, aceita e compreendida.

O apoio emocional não se trata de uma análise ou comparação de experiências e, supostamente, do aprendizado que resulta destas, mas de perceber e lidar com os sentimentos.
Não antagonize o outro, antagonizar é contrariar, discordar ou causar aborrecimento a outrem, ou seja, o oposto de apoiar.

Enquanto uma pessoa emocionalmente congruente e complacente favorece a expressão e o reconhecimento dos sentimentos, seja em si mesmo ou nos outros, uma pessoa antagonista, egoísta ou emocionalmente negligente, no entanto, tem o hábito de ignorá-los, reprimi-los, evitá-los, negá-los ou banalizá-los.
Então não está oferecendo apoio emocional, mas alienando o outro.
Você pode fazer isso de forma bastante automática usando o julgamento e chavões do senso comum, discurso motivacional ou um excesso de psicologia positiva, por exemplo.

Por Raquel Gonçalves.
‘O que faz um relacionamento ser abusivo?
Quando você tem qualquer tipo de relacionamento com uma pessoa e ela nega sua privacidade, sua intimidade, abusa verbalmente, abandona, negligencia, oprime, magoa.
Isso é um relacionamento abusivo.

Mãe, reconhecer o nosso relacionamento abusivo não foi fácil para mim, mas romper com esse ciclo despótico e desgastante me dá novos vigores.
O senso de problematizar a nossa relação é aquele que me liberta e faz tentar compreender seus motivos para agir dessa forma.’

Ninguém viveu minha vida, ninguém chorou minhas lágrimas. Então não julgue, e apenas fique na sua. – Kristen Stewart

Por Vivian.
A realidade é implacável, mães odeiam seus filhos sim.
A sociedade tem que parar de fechar os olhos para isto, apenas por serem fracos demais apenas para imaginar tal situação. Sabemos aqui que vivemos isso.
Minha própria mãe, a pessoa pela qual eu sempre lutei na esperança de que o coração dela fosse tocado . . . mas essas mudanças só ocorrem em filmes mesmo.

Por Adriana.
Queria muito ter uma relação de mãe e filha saudável com ela, tentei várias vezes, mas não dá.
Ela se faz de coitada, fala para as pessoas que não gosto dela, mas não fala uma palavra sobre tudo que já fez.
É muito ruim, e o pior é que acreditam nela e não em mim.

Alguns pensam que o que nos faz mais fortes é aguentar, mas às vezes é apenas deixar estar. – Herman Hesse

Por Carlos Moraes, este que vos escreve.
Letícia, Raquel, e tantas mais: Que a história nos faça justiça, ou pelo menos seja leve e gentil.
Bem, eu tenho um histórico de vida.
Por entender que para apontar motivos seja preciso conhecer cada história em sua individualidade, a minha com essa senhora aqui está em SOBREVIVENDO NO INFERNO.

“Desculpa” mãe, mas você é a responsável pelo abismo existente entre nós.
Eu vim expor umas verdades olhando meu reflexo no espelho enquanto vejo as marcas interiores deixadas pelas suas escolhas e atitudes.
Mas não quer ouvir isso, não é? Aí é que está, você não ouve, nunca ouviu.
E sempre tem razão, pois é mais fácil perpetuar uma falácia, mesmo quando está completamente errada.

Estava enganado sobre você, você é pior do que eu pensava.
Nunca importou para você como eu me sentia.
Se realmente se importasse comigo, teria me perguntado ao menos uma vez como eu estive todo esse tempo.

Eu estou te explicando para te confundir. Eu estou te confundindo para te explicar. – Tom Zé

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