quarta-feira, 1 de junho de 2016

AS COUSAS SÓ TEM SENTIDO QUANDO SÃO SENTIDAS

As pessoas dificilmente ouvem com o propósito de realmente escutar (e seu sinônimo observar).
A realidade por trás destas poucas palavras é tremendamente grande.
Quase sempre, as palavras são analisadas e tratadas como qualquer texto.
Todavia, a palavra precisa ser vivida e não discutida ou analisada.
O tratamento do desáudio jamais funcionou, o impor, só cria dor, e não ajuda a resolver qualquer situação.
Portanto, ao invés de questionar as palavras da pessoa com ar de descaso, tenha predileção por outra perspectiva.

Em Filosofia Clínica, quando alguém usa uma frase contextualizada, ou seja, apresenta as circunstâncias, teoricamente significa dar sentido real, trazer a realidade da coisa, apesar da realidade não precisar ser falada, pois ela é real para aqueles que a vivem.
Mas na maioria dos casos quem ouve está querendo o sentido literal, ou seja, compreender sem ajuda do contexto, e concluir que o que a pessoa expressou com o que disse, foi “determinada” coisa.
Não se dá ao trabalho de observar pormenorizadamente o que a outra pessoa disse, ao contrário, apenas está fazendo uma interpretação.
Isto posto, não sabermos o que significa, antes de inferir como a pessoa elaborou o que está nos dizendo e qual o significado para ela.

Em cada um de nós as palavras ganham seus significados de acordo com nossa história.
Cada palavra, som, aroma, gosto, pode estar ligado a uma série de conceitos que estão guardados em nosso intelecto.
Quando nos expressamos, são estes conceitos que estão sendo verbalizados, significados ao nosso jeito, da nossa maneira e segundo nossa história de vida.

As produções de M. C. Escher, por exemplo, servem de metáfora a certos conflitos, problemas insolúveis e cenários de pesadelo, onde nem tudo é o que parece ser.
Como, paisagens que desafiam a lógica, em que indivíduos impossíveis sobem e descem continuamente uma escada, sem chegar a lugar algum, repetindo ao infinito, atos fúteis e inúteis.
Ele dizia que para expressar algo impossível, absurdo, é preciso cercá-lo de uma normalidade previsível.

Por conseguinte, se alguém quiser construir um conhecimento coerente e consistente, será preciso afastar as pré-noções e os julgamentos de valor que estão presentes no senso comum.
O olhar que evita essas posturas, é o olhar do estranhamento.
Só que os outros não olham uma situação de diferentes ângulos.

Muitas vezes as pessoas olham e se contentam com o primeiro olhar para explicar algum acontecimento ou pessoa, o problema é que, por isso, não conseguem entender muito bem o que se passa, já que o olhar é também repleto de preconceitos.
Acontece das pessoas aceitarem aquilo que um primeiro olhar mostra.
Mas, ¬para entender a realidade, não basta lançar um único olhar, pois o primeiro olhar, muitas vezes, não é imparcial.

Contudo, podemos entender que há várias formas de olhar, e que, a cada vez que é lançado um olhar diferente, vemos de outro ângulo.
Assim sendo, que tal pensar em alguma coisa que pode ser olhado sob os mais diferentes ângulos?
Se então quiser fazer uma análise da realidade o mais isenta possível, deve-se tentar observá-la do maior número possível de ângulos e perspectivas.

M. C. Escher brincou com a credulidade desse primeiro olhar, ele ajuda na discussão sobre o que é certo e o que é errado.
Ou seja, o olhar imediatista que é lançado sobre a realidade pode estar errado e repleto de preconceitos que precisam ser deixados de lado.
O que ajuda a refletir sobre a relatividade de certos pontos de vista, da perspectiva dessas pessoas, pois quando se muda o ângulo por meio do qual se vê algo, pode-se às vezes compreendê-lo de uma forma melhor.
Afastar-se dos juízos de valor é um cuidado metodológico fundamental, porém as pessoas não querem fazer isso, não querem assumir outro ângulo para observar um fato ou acontecimento.
São obras consistentes, alimentos ‘sólidos’, que podem vos guiar para caminhos de profunda reflexão, um bálsamo, um lenitivo, um alento, como mensagens que vos ajudam a elucidar melhor as cousas.

- O artista nos mostra que não há uma única forma de olhar, infinitas são as possibilidades de observar a realidade.

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